quinta-feira, 25 de março de 2010

Tempo de Escolher


“Um homem não é grande pelo que faz, mas pelo que renuncia.”
(Albert Schweitzer)


Muitos amigos, ainda concurseiros, têm solicitado minha opinião acerca de qual rumo dar às suas carreiras. Alguns apreciam seu trabalho, mas não a empresa onde estão. Outros admiram a estabilidade que o serviço público proporciona, mas têm medo de não terem qualquer prazer no exercício de suas funções. Uns recebem propostas para mudar de emprego, financeiramente desfavoráveis, porém, desafiadoras. Outros têm diante de si um vasto leque de opções, muitas coisas para fazer, mas não conseguem abraçar tudo.

Todas estas pessoas têm algo em comum: a necessidade premente de fazer escolhas. Lembro-me de Clarice Lispector: “Entre o ‘sim’ e o ‘não’, só existe um caminho: escolher.” Acredito que quase todas as pessoas passam ao longo de sua trajetória pelo “dilema da virada”. Um momento especial em que uma decisão clara, específica e irrevogável tem que ser tomada simplesmente porque a vida não pode continuar como está. É a hora de encarar a “guerra dos concursos”. Algumas pessoas passam por isso aos 18 anos, outras, aos 50. Algumas talvez nunca tomem esta decisão, e outras o façam várias vezes no decorrer de sua existência.

Fazer escolhas implica renunciar a alguns desejos para viabilizar outros. Implica abrir mão de alguns prazeres hoje, para poder usufruí-los melhor amanhã. Você troca segurança por desafio, dinheiro por satisfação, o pouco certo pelo muito duvidoso. Assim, uma empresa que oferece estabilidade com apatia pode dar lugar a outra dotada de instabilidade com ousadia (o grande drama entre servidor efetivo/estatutário ou celetista). Analogamente, a aventura de uma vida de solteiro pode ceder espaço ao conforto de um casamento.

PRAZER E VOCAÇÃO

Os anos ensinaram-me algumas lições. A primeira delas vem de Leonardo da Vinci, que dizia que “A sabedoria da vida não está em fazer aquilo que se gosta, mas em gostar daquilo que se faz”. Sempre imaginei que fosse o contrário, porém, refletindo, passei a compreender que
quando estimamos aquilo que fazemos, podemos nos sentir completos, satisfeitos e plenos, ao passo que se apenas procurarmos fazer o que gostamos, estaremos sempre numa busca insaciável, porque o que gostamos hoje não será o mesmo que prezaremos amanhã.

Todavia, é indiscutivelmente importante aliar prazer às nossas aptidões; encontrar o talento que reside dentro de cada um de nós (a nossa voz interna), ao que chamamos de vocação. Oriunda do latim vocatione e traduzida literalmente por “chamado”, simboliza uma espécie de predestinação inerente a cada pessoa, algo revestido de certa magia e divindade.

Escolhas são feitas com base em nossas preferências. E aí recorro novamente à etimologia das palavras para descobrir que o verbo preferir vem do latim praeferere e significa “levar à frente”. Parece-me uma indicação clara de que nossas escolhas devem ser feitas com os olhos no futuro, no uso de nosso livre arbítrio.

O mundo concursídico nos guarda muitas armadilhas. Trocar de órgão ou de atribuição, por exemplo, são oportunidades permanentes. O problema de recusá-las (ou deixá-las ir embora) é passar o resto da vida se perguntando “O que teria acontecido se eu tivesse aceitado aquele desafio?”. Prefiro não carregar comigo o benefício desta dúvida, por isso opto por assumir riscos evidentemente calculados e seguir adiante. Dizem que somos livres para escolher, porém, prisioneiros das conseqüências...

Para aqueles insatisfeitos com seu ambiente de trabalho, uma alternativa à mudança de órgão é postular a melhoria do ambiente interno atual. Por que não investir onde já se está, buscando uma melhora contínua. Dialogar e apresentar propostas são um bom caminho. De nada adianta assumir uma postura meramente defensiva e crítica. Lembre-se de que as pessoas não estão contra você, mas a favor delas.

Por fim, combata a mediocridade em todas as suas vertentes. A mediocridade de trabalhos desconectados com sua vocação, de locais de trabalho que não valorizam funcionários, de relacionamentos falidos. Sob este aspecto, como diria Tolstoi, “Não se pode ser bom pela metade”. Meias-palavras, meias-verdades, meias-mentiras, meio caminho para o fim. Nada disso existe, quando tudo o que buscamos é apenas o nosso nome na lista de aprovados em concursos; mas não custa esclarecer que, após a nomeação, outros problemas poderão surgir, exigindo do concurseiro (ora servidor/funcionário público) outras habilidades ainda não trabalhadas durante a 1ª batalha: a aprovação.

Os gregos não escreviam obituários. Quando um homem morria, faziam uma pergunta: “Ele viveu com paixão?”.

QUAL SERIA A RESPOSTA PARA VOCÊ?

Resumo da Ópera: Às vezes, descobrir a voz que existe dentro de cada um de nós é a parte mais difícil do processo, negligenciada por muitos. Depois disso, a vitória na guerra dos concursos será apenas consequência. Busque a sua voz interior e seja feliz, onde quer que esteja.

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